O
presente texto busca ser um relato de momentos que passei como aluno durante os
anos vividos nas diferentes escolas que frequentei ao longo da minha infância e
adolescência. Ao recordar fatos marcantes na minha vida estudantil pude
perceber que a avaliação da aprendizagem foi em grande parte exercida pela
lógica da classificação, na qual cabia aos alunos de forma massiva a decoração
e repetição dos conteúdos presentes no material didático.
Minha infância no ensino
fundamental
Em
toda a minha vida apenas frequentei escolas públicas, sempre fui uma criança/adolescente
quieto, disciplinado que certamente não teria uma ocupação com a galera
bagunceira que geralmente sentavam ao fundo da sala de aula, mas também, não me
sentava na frente perto dos Cdf´s, costumava me acomodar nas carteiras do meio.
Eu estudava sempre o que era necessário nem de menos, nem de mais, como aluno
fazia o que era necessário para seguir adiante na trajetória escolar.
Grande
parte da minha infância foi vivida no Rio de Janeiro, lá estudei em um colégio
intitulado Colégio Municipal México onde guardo lembranças das amizades que fiz
com colegas, o carinho e atenção que recebi de certos professores, das
avaliações e consequentemente as notas obtidas.
A
avaliação da aprendizagem nesta escola era expressa através de conceitos EP (em
processo), S (satisfatório)e PS (plenamente satisfatório), que respectivamente
simbolizavam o nível atingido pelo alunado na avaliação, menor que 40%, entre
40% e 69% e 70% ou superior.
Lembro-me
que em certo ano do ensino fundamental tínhamos uma professora nova de
matemática que certamente deveria ser o terror de todas as turmas, pois pelo
que posso recordar suas aulas eram repletas de uma prática que os alunos
odiavam, principalmente os garotos tímidos como eu. Em certos momentos da aula ela
fazia perguntas para que nós respondêssemos no quadro, dá para mensurar o nível
de tensão na qual éramos submetidos, pois havia a toda a turma te olhando, caso
você errasse a conta a professora anotava no seu caderno a nota merecida, logo
quem errava a questão iriam acumulando pontos negativos que seriam refletidos
na sua avaliação final.
Refletindo
sobre essa prática posso perceber por que naquele ano pela primeira vez na vida
tive que ter aulas particulares de matemática pagas com esforço pela minha mãe,
acho que a aversão a essa metodologia criou em mim uma barreira que dificultou
meu aprendizado. Na minha percepção as metodologias de ensino, neste caso
envolvendo a matemática devem procurar envolver ao máximo o aluno para que
desperte nele o interesse pelo aprendizado da matéria sempre que possível
utilizando variadas formas de avaliação.
Decoreba, a arte da acumulação
Duas
cenas são remetidas na minha cabeça quando lembro-me da preparação para as
provas. NA primeira cena estou sentado no sofá tentando decorando uma tabuada insistentemente
para a prova de matemática, em certos momentos tenho ajuda dos meus pais. Já na segunda
cena estou a decorar a ordem dos planetas que fazem, ou melhor faziam parte do sistema
solar, lembro-me de andar de um lado para o outro da sala falando em voz
alta(para não esquecer, ou para entrar de uma vez por todas na minha cabeça) a
ordem dispostas desses planetas.
Posso
notar hoje que ambas as situações eu estava exercendo a arte da decoreba para
poder passar nas provas, não que seja de todo mal, mas me pergunto se realmente
havia na prática do professor o objetivo de ofertar aos seus alunos a real compreensão
dos conceitos abordados em sala de aula ou a simples reprodução do conteúdo
visto nos livros didáticos.
Um novo lar, uma nova escola
Após
ter concluído todo o ensino fundamental meus pais decidem voltar para a terra
natal deles, aqui ingressei no ensino médio na escola pública Francisco Pessoa
de Brito. Minha participação dentro desta escola pode ser dividida em dois momentos,
o primeiro como estudante do turno da manhã e o segundo quando passei a
frequentar a escola a noite.
No
primeiro ano do ensino médio eu estava indo bem mal na disciplina de matemática,
sim ela novamente. Como resultado fiquei na prova final precisando de alguns
pontos para passar. Como de costume o professor sempre aplicava uma “aula
extra” para todos aqueles que precisavam de alguns pontos para passar de ano.
Porém o mais surreal é que essa tal aula era cobrada, não me lembro exatamente
o valor. Por fim, todos nós (muita gente estava na mesma situação) passamos
para a próxima série.
Certamente
isso não foi a atitude mais ética partida desse professor, ele se aproveitou
das necessidades que certos alunos tinham para oferecer algo que na sua prática
na sala de aula da escola não deveria acontecer.
Com
a necessidade de trabalhar fui estudar no turno da noite. Naquela época não
muito, mas hoje posso perceber o quanto a qualidade e a quantidade dos
conteúdos que eu devia aprender que poderiam me ser útil futuramente foi
bruscamente reduzida por diversas questões como falta de professores, curto
tempo de aula, entre outras coisas.
As
avaliações frequentemente se davam através trabalhos de pesquisa na internet e provas,
sendo que em muitas delas eram pesquisadas, certos professores não se
preocupavam com as “pesquisas” constantes feitas aos colegas das carteiras ao
lado. Por fim, todos passavam com praticamente as mesmas notas e respostas quase
idênticas.
A Universidade
Minha
entrada na universidade foi um marco significativo na minha vida. De família
humilde e tendo frequentado no máximo até a quarta série meus pais sempre me
apoiaram para seguir em frente, pois sabem que o caminho em direção a Educação
é transformador.
Eu
poderia mencionar diversos momentos em que a prática de avaliar se desvirtua da
avaliação da aprendizagem proposta por Luckesi. Isso se dá pelo fato de que na
universidade a característica da avaliação é na maior parte dos casos classificatória
e excludente, por vezes a utilizam de forma autoritária, ou seja, certos
professores usam a pedagogia voltada para a conservação dos “status quo”, no qual estudante que já
tem as aptidões necessárias para a disciplina seguiram em frente, já os demais
ficaram pelo caminho.
Conclusão
Em
resumo, minha experiência em relação a avaliação escolar foi na maior parte dos
casos caracterizada pelo não uso da abordagem reflexiva, inclusiva e dialógica.
Isso não quer dizer que não tive durante minha trajetória estudantil
professores preocupados com a questão da real construção do aprendizado em sala
de aula. O fato é que a avaliação da aprendizagem sob a lógica tradicional se sobrepôs
bastante aos casos em que a avaliação foi voltada para a formação do
conhecimento no aluno.
Concordo
com as palavras ditas no livro Avaliação da aprendizagem escolar pelo professor
Luckesi quando ele diz que a maioria das escolas ainda hoje em sua maioria
trabalham com uma pedagogia voltada para o exame, no qual por se vezes acaba
por refletir o modelo pertencente a essa sociedade altamente classificatória e
excludente resultando em altas taxas de fracasso escolar por todo nosso país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário