sábado, 6 de dezembro de 2014

AVALIAÇÃO SEM APRENDIZAGEM

  
O presente texto busca ser um relato de momentos que passei como aluno durante os anos vividos nas diferentes escolas que frequentei ao longo da minha infância e adolescência. Ao recordar fatos marcantes na minha vida estudantil pude perceber que a avaliação da aprendizagem foi em grande parte exercida pela lógica da classificação, na qual cabia aos alunos de forma massiva a decoração e repetição dos conteúdos presentes no material didático.

Minha infância no ensino fundamental

Em toda a minha vida apenas frequentei escolas públicas, sempre fui uma criança/adolescente quieto, disciplinado que certamente não teria uma ocupação com a galera bagunceira que geralmente sentavam ao fundo da sala de aula, mas também, não me sentava na frente perto dos Cdf´s, costumava me acomodar nas carteiras do meio. Eu estudava sempre o que era necessário nem de menos, nem de mais, como aluno fazia o que era necessário para seguir adiante na trajetória escolar.
Grande parte da minha infância foi vivida no Rio de Janeiro, lá estudei em um colégio intitulado Colégio Municipal México onde guardo lembranças das amizades que fiz com colegas, o carinho e atenção que recebi de certos professores, das avaliações e consequentemente as notas obtidas.
A avaliação da aprendizagem nesta escola era expressa através de conceitos EP (em processo), S (satisfatório)e PS (plenamente satisfatório), que respectivamente simbolizavam o nível atingido pelo alunado na avaliação, menor que 40%, entre 40% e 69% e 70% ou superior.
Lembro-me que em certo ano do ensino fundamental tínhamos uma professora nova de matemática que certamente deveria ser o terror de todas as turmas, pois pelo que posso recordar suas aulas eram repletas de uma prática que os alunos odiavam, principalmente os garotos tímidos como eu. Em certos momentos da aula ela fazia perguntas para que nós respondêssemos no quadro, dá para mensurar o nível de tensão na qual éramos submetidos, pois havia a toda a turma te olhando, caso você errasse a conta a professora anotava no seu caderno a nota merecida, logo quem errava a questão iriam acumulando pontos negativos que seriam refletidos na sua avaliação final.
Refletindo sobre essa prática posso perceber por que naquele ano pela primeira vez na vida tive que ter aulas particulares de matemática pagas com esforço pela minha mãe, acho que a aversão a essa metodologia criou em mim uma barreira que dificultou meu aprendizado. Na minha percepção as metodologias de ensino, neste caso envolvendo a matemática devem procurar envolver ao máximo o aluno para que desperte nele o interesse pelo aprendizado da matéria sempre que possível utilizando variadas formas de avaliação.

Decoreba, a arte da acumulação

Duas cenas são remetidas na minha cabeça quando lembro-me da preparação para as provas. NA primeira cena estou sentado no sofá tentando decorando uma tabuada insistentemente para a prova de matemática, em certos momentos tenho ajuda dos meus pais. Já na segunda cena estou a decorar a ordem dos planetas que fazem, ou melhor faziam parte do sistema solar, lembro-me de andar de um lado para o outro da sala falando em voz alta(para não esquecer, ou para entrar de uma vez por todas na minha cabeça) a ordem dispostas desses planetas.
Posso notar hoje que ambas as situações eu estava exercendo a arte da decoreba para poder passar nas provas, não que seja de todo mal, mas me pergunto se realmente havia na prática do professor o objetivo de ofertar aos seus alunos a real compreensão dos conceitos abordados em sala de aula ou a simples reprodução do conteúdo visto nos livros didáticos.

Um novo lar, uma nova escola

Após ter concluído todo o ensino fundamental meus pais decidem voltar para a terra natal deles, aqui ingressei no ensino médio na escola pública Francisco Pessoa de Brito. Minha participação dentro desta escola pode ser dividida em dois momentos, o primeiro como estudante do turno da manhã e o segundo quando passei a frequentar a escola a noite.
No primeiro ano do ensino médio eu estava indo bem mal na disciplina de matemática, sim ela novamente. Como resultado fiquei na prova final precisando de alguns pontos para passar. Como de costume o professor sempre aplicava uma “aula extra” para todos aqueles que precisavam de alguns pontos para passar de ano. Porém o mais surreal é que essa tal aula era cobrada, não me lembro exatamente o valor. Por fim, todos nós (muita gente estava na mesma situação) passamos para a próxima série.
Certamente isso não foi a atitude mais ética partida desse professor, ele se aproveitou das necessidades que certos alunos tinham para oferecer algo que na sua prática na sala de aula da escola não deveria acontecer.
Com a necessidade de trabalhar fui estudar no turno da noite. Naquela época não muito, mas hoje posso perceber o quanto a qualidade e a quantidade dos conteúdos que eu devia aprender que poderiam me ser útil futuramente foi bruscamente reduzida por diversas questões como falta de professores, curto tempo de aula, entre outras coisas.
As avaliações frequentemente se davam através trabalhos de pesquisa na internet e provas, sendo que em muitas delas eram pesquisadas, certos professores não se preocupavam com as “pesquisas” constantes feitas aos colegas das carteiras ao lado. Por fim, todos passavam com praticamente as mesmas notas e respostas quase idênticas.


A Universidade

Minha entrada na universidade foi um marco significativo na minha vida. De família humilde e tendo frequentado no máximo até a quarta série meus pais sempre me apoiaram para seguir em frente, pois sabem que o caminho em direção a Educação é transformador.
Eu poderia mencionar diversos momentos em que a prática de avaliar se desvirtua da avaliação da aprendizagem proposta por Luckesi. Isso se dá pelo fato de que na universidade a característica da avaliação é na maior parte dos casos classificatória e excludente, por vezes a utilizam de forma autoritária, ou seja, certos professores usam a pedagogia voltada para a conservação dos “status quo”, no qual estudante que já tem as aptidões necessárias para a disciplina seguiram em frente, já os demais ficaram pelo caminho.

Conclusão

Em resumo, minha experiência em relação a avaliação escolar foi na maior parte dos casos caracterizada pelo não uso da abordagem reflexiva, inclusiva e dialógica. Isso não quer dizer que não tive durante minha trajetória estudantil professores preocupados com a questão da real construção do aprendizado em sala de aula. O fato é que a avaliação da aprendizagem sob a lógica tradicional se sobrepôs bastante aos casos em que a avaliação foi voltada para a formação do conhecimento no aluno.
Concordo com as palavras ditas no livro Avaliação da aprendizagem escolar pelo professor Luckesi quando ele diz que a maioria das escolas ainda hoje em sua maioria trabalham com uma pedagogia voltada para o exame, no qual por se vezes acaba por refletir o modelo pertencente a essa sociedade altamente classificatória e excludente resultando em altas taxas de fracasso escolar por todo nosso país.



Nenhum comentário:

Postar um comentário