“A avaliação, cada vez mais torna-se alvo de indagações, de
reflexões, de experimentação, de controvérsia. “(p.10)
A avaliação desvirtuou-se do seu sentido original, passou a
ditar o nível de aprendizado alcançado pelos alunos conforme níveis
estabelecidos.
“Avaliar, como tarefa docente, mobiliza corações e mentes, afeto
e razão, desejos e possibilidades. É uma tarefa que dá identidade à professora,
normatiza sua ação, define etapas e procedimentos escolares, media relações,
determina continuidades e rupturas, orienta a prática pedagógica.” (p.14)
A prática do professor está ligada a avaliação, ele deverá ter
sempre a concepção que ao avaliar os seus alunos, ele também deverá muitas
vezes ter uma postura reflexiva, pois a propriedade identidade do professor
poderá se dá a partir daí em relação aos seus alunos.
“A avaliação
classificatória configura-se com as ideias de mérito, julgamento, punição e
recompensa, exigindo o distanciamento entre os sujeitos que se entrelaçam nas
práticas escolares cotidianas.” (p.15)
Esta modalidade de avaliação quebra em pedaços o que se julga o
aprendizado do aluno, não é possuir um olhar do aprendizado como um todo, mais
por parte que muitas vezes não se completam.
“[...] Para realizar a contento sua tarefa, a professora deve
cerca-se de garantias para que o processo realizado produza resultados
verdadeiros, objetivos, fidedignos, que explicitem o real valor de cada um dos
alunos e alunas, os quais, classificados e hierarquizados, terão as
recompensas, punições ou os tratamentos adequados a cada caso.” (p.14)
Esse tipo de avaliação não tem como princípio
em ajudar no desenvolvimento do aluno, pois ao tentar classificá-lo como bom ou
ruim, o aluno tende a se sentir fora do contexto escolar, causando assim um mal-estar.
“[...] a avaliação quantitativa expressa, no âmbito escolar, a
epistemologia positivista que conduz uma metodologia em que a manipulação dos
dados tem prioridade sobre a compreensão do processo.” (p.16)
Este
processo de avaliação classifica os alunos não considerando as diferentes
formas de aquisição do conhecimento.
“[...] O exame produz a distância epistemológica necessária
entre os sujeitos da relação pedagógica, em que um deles é objetivado para ser
conhecido e avaliado; os instrumentos garantem a distância empírica. Assim, a
professora encontra meios para fragmentar o conhecimento nas disciplinas
escolares, fragmentar os alunos e alunas em partes observáveis, que podem ser
quantificadas, medidas, comparadas, classificadas e receber um valor, que é
registrado e que informa a posição dos estudantes na hierarquia da sala de
aula, da escola e da sociedade. ”(p.17)
O professor
muitas vezes não consegue utilizar outros métodos de avaliação no cotidiano
escolar, e por isso acaba ficando submisso aos métodos de avaliação do sistema,
no qual tentar classificar o sujeito perante a escola ou sociedade. Embora o
conhecimento não possua medidas, os professores tenta utilizar meios que
fragmente o grau de entendimento do aluno, dando escala numéricas a provas e
atividades escolares.
“[...] O que seria a
representação do desempenho do sujeito em determinadas circunstâncias torna-se
uma característica que identifica o sujeito: o mau (ou bom) rendimento produz o
mau (ou bom) aluno.” (p.18)
Os
resultados obtidos nas avaliações muitas vezes fogem ao sentido de proporcionar
um balanço do desempenho, para tornar-se uma forma de separar os alunos em
categorias aos olhos dos professores.
“A avaliação do rendimento escolar, indispensável ao processo
classificatório, inscreve-se nas práticas sociais cujo objetivo ao examinar é
vigiar e punir [...].” (p.19)
Para escola
o aluno tem que ser submetido a diversos testes de avaliação, já que a
instituição utiliza como prática de classificação, pois só assim ela poderá dá
um acompanhamento ao aluno ou puni-lo caso não apresente um rendimento
satisfatório.
“[...] O cotidiano
escolar mostra como é frágil a definição do que é sujeito do conhecimento e do
que é o objeto de conhecimento. A avaliação remete a uma ação da professora
sobre os alunos e alunas, muitas vezes vista como uma relação de poder.” (p.20)
A hierarquização muitas vezes naturalmente imposta pode criar
barreiras para a relação de ambos, professor e aluno, o professor na minha
concepção pode e deve deixar de lado o papel muitas vezes utilizado de “dono do
saber” para ser tornar “o descobridor do saber” junto com seus alunos.
“[...] professoras
mostram que elas não compartilham da avaliação classificatória, que se sentem
obrigadas a realizá-la ou até mesmo é o único processo que conhecem e, ainda
que tentem, não conseguem escapar da teia de relações na qual o processo
escolar de avaliação tece.” (p.22)
Difícil retirar a avaliação classificatória de vez do cotidiano
escolar, o sistema acaba exigindo sua utilização como único meio avaliativo,
porém os professores devem encontrar cada vez mais meios de diminuir sua
utilização e utilizar outras alternativas menos excludentes.
“[...] As notas, os conceitos, as fichas, são apenas
aproximações, traduções, recortes, limites.” (p.23)
Infelizmente as notas são consideradas como símbolos
classificatórios do conhecimento adquirido. Entretanto, sabemos que o
conhecimento não pode ser medido por julgamentos limitados que muitas vezes
levam a exclusão dos alunos.
“A professora, às vezes,
sabe, ou suspeita, que muitas vezes a reprovação não faz o aluno ou aluna
aprender, que nem sempre é uma nova oportunidade; mas sabe, também, ou continua
suspeitando, que para não classificar e excluir é preciso que muitas coisas
mudem na escola, inclusive em si mesma.” (p.23)
O professor tem a conscientização muitas vezes que a reprovação
não ensinar o aluno, nem muito menos faz como que ele se sinta melhor. Ela gera
um desconforto e desestimula o aluno, por isso é necessário que o professor
possa criar mecanismos que possa auxiliar no momento da sua avaliação.
“No cotidiano escolar, avaliando e sendo avaliada, a professora
vai aprendendo duas lições contraditórias: é preciso classificar para ensinar;
e classificar não ajuda a ensinar melhor, tampouco a aprender mais –
classificar produz exclusão e para ensinar é indispensável incluir.” (p. 23)
É difícil para certos professores tomarem tais decisões no
processo avaliativo, já que possuem a concepção de que ensinar requer não
exclusão do aluno e ao mesmo tempo eles se veem na necessidade de excluir para
avaliar.
“[...] a professora também vai avaliando seu aluno ou aluno e
vai sendo capaz de perceber quando uma resposta, mesmo que errada, corresponde
a um grande avanço para alguns, decorre de um significativo esforço para
outros, ou indica descompromisso, desinteresse ou desconhecimento.” (p.24)
É na experiência adquirida da sua prática cotidiana que o
professor começa a perceber avanços ou dificuldades no aprendizado dos alunos,
podendo diminuir a necessidade da avaliação classificatória no processo de
aprendizagem.
“[...] A primeira
apresenta epistemologia e metodologia positivista, em que a manipulação do
objeto de conhecimento está associada ao processo de compreensão, ou melhor, de
domínio de informações. A essa vertente está articulada a proposição
quantitativa da avaliação, em que a ênfase é posta nos resultados alcançados e
na possibilidade de sua quantificação, o que prevê uniformização dos sujeitos e
organização curricular que priorize um conhecimento objetivo e factual,
mantendo e estimulando as fronteiras disciplinares e com uma atuação fortemente
disciplinadora.” (p.24)
Esta
abordagem de avaliação julga o aprendizado se baseando nos dados quantificados,
onde notas altas são consideradas como um desempenho favorável, enquanto notas
baixas representam reprovação e exclusão.
“[...] O movimento da avaliação qualitativa relaciona-se ao
processo de conhecimento articulado pela ideia de compreender o mundo e não de
dominar e de manipular o mundo. (p.26)”
Ao contrário do modelo de avaliação quantitativa, este modelo
compreende que o aprendizado não está caracterizado por boas notas, mas sim
pela compreensão e assimilação do objeto de estudo
"A ressignificação do exame é acompanhada pela troca das
notas por conceitos, sem dúvida faixas mais amplas que permitem incorporar à
avaliação informações adicionais e relevantes sobre a aprendizagem de cada um
com um processo que ultrapassa os resultados apresentados e que não pode ser
reduzido ao desempenho nem limitado à atividade cognitiva. (p.26)"
Desta
forma, para avaliar o grau de aprendizado do aluno serão utilizados outros
critérios mais abrangentes.
"[...] a auto avaliação é introduzida no processo,
acompanhando a dinâmica da avaliação até então realizada apenas pela
professora. (p.26)"
Desta forma
o aluno se vê também como um participante ativo nesse processo de aprendizado,
no qual se julgará perante sua consciência.
“[...] É na escola que encontro pistas e evidencias de que a
avaliação precisa transformar-se e de que diariamente ela vem sendo
transformada por quem a realiza. Às vezes, uma atividade aparentemente igual
ganha sentidos diferentes.” (p.30)
Muitos professores atualmente tem a concepção que o processo
avaliativo classificatório não deve ser utilizado como forma única de
classificar o alunado, mas que seja utilizado como mais um recurso auxiliar que
forneça um retorno (feedback) de como anda o avanço da aprendizagem do aluno.
ESTEBAN, Maria Teresa. Ser professora: avaliar e ser avaliada. In: ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Escola, currículo e avaliação. 2.ed.São Paulo: Cortez 2005, p.13-37.
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